26 outubro 2007

"- Ça, c’est la vie?"

"O Escafandro e a Borboleta” é um livro escrito somente com um olho.

Vitima, em Dezembro de 1995, de um acidente vascular cerebral, Jean-Dominique Bauby fica completamente paralisado à excepção do seu olho esquerdo.

Preso dentro de si, é através desse olho que consegue comunicar com o mundo.

Com 200.000 piscares de pálpebra e, através de um alfabeto próprio baseado na frequência do uso das letras, ele “dita” todas as manhãs as frases que durante a noite memoriza.

O livro foi editado em 5 de Março de 1997.

Quatro dias mais tarde, Jean-Dominique Bauby faleceu.


Agora, para ver nos cinemas...
Mas não com os olhos…

16 outubro 2007

A flor...

"Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis.

A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.

Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!

Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!"


José de Almada Negreiros (1893-1970)– A invenção do dia claro,1921

12 outubro 2007

Pensar...

"Minha imaginação doente. Meu pensar de loucura. Entender. Porquê a obsessão de entender o que não tem entendimento possível? Porquê a obsessão de ter de haver uma resposta, apenas porque houve uma pergunta? Todo o entender é no impossível que tem o seu limite. Mas o impossível é a medida do homem e da sua vocação. Aí sou. Aí estou"
"Aprender é reconhecer. E se só se aprende o que já se sabe, tudo o mais o que se aprende apenas se decora para depois esquecer. Platão não o soube com a sua «reminiscência». Mas sobretudo errou ao inventar um lugar donde se aprendeu. Porque esse lugar está está em nós."
"A luz, o mar, o vento. E as flores, os animais, a vida inteira. Não te apetece gritar? Explicar tudo isso num grito? Num excesso do excesso?"
"E eu disse-lhe: o melhor da vida é o seu impossível. E ela disse-me: isso não tem sentido nenhum. E eu dei-lhe razão, mas não sabia porquê. Ou seja, pela melhor razão que podia ter."

"Sorri um pouco, sorri. na perene juventude do teu imaginar. Flor aérea que para sempre te ficou. Lembra devagar o teu sorriso de outrora no teu deslumbramento. E sê feliz."

Virgílio Ferreira (1916-1996)

imagens: Jan Saudek; Karl Perrson; Jan Saudek; Desconhecido