24 dezembro 2008

13 novembro 2008

Viagem

A. I. Won in Komung

"Não é todos os dias que aparece nas nossas vidas um elefante."

José Saramago in A Viagem do Elefante


10 outubro 2008

Ai! Se...

Ai! se sêsse!...

Se um dia nós se gostasse;

Se um dia nós se queresse;

Se nós dois se impariásse,

Se juntin nós dois vivesse!

Se juntin nós dois morasse

Se juntin nós dois morasse

Se juntin nós dois drumisse;

Se juntin nós dois morresse!

Se pro céu nós assubisse?

Mas porém, se acontecesse

Se juntin nós dois morresse!

Se pro céu nós assubisse?

Mas porém, se acontecesse

qui São Pêdo não abrisse

as portas do céu e fosse,

te dizê quarqué toulíce?

E se eu me arriminasse

e tu cum eu insistisse,

prá qui eu me arrezorvesse

e a minha faca puxasse,

e o bucho do céu furasse?...

Tarvez qui nós dois ficasse

tarvez qui nós dois caísse

e o céu furado arriasse

e as virge tôdas fugisse!!!


http://www.youtube.com/watch?v=7BmvygOD1E0&feature=related


Obrigado E.

02 setembro 2008

Meu domínio foi outrora em vales fundos...

Roger Ballen


A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia chamada ser feliz - tudo isto cheira a mundo, sabe à triste coisa que é a terra.
Sê indiferente. Ama o poente e o amanhecer, porque não há utilidade. nem para ti, em amá-los. Veste o teu ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Maio nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. Tua ânsia mora entre mirtos, teu tédio cesse entre tamarindos e o som da água acompanhe tudo isto com um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr, eterno, para marés longínquas. O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estedem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua, a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.
Meu destino é a decadência.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego

14 julho 2008

E aprendemos...

Após um tempo,
Aprendemos a diferença subtil
Entre segurar uma mão
E acorrentar uma alma,
E aprendemos
Que o amor não significa deitar-se
E uma companhia não significa segurança
E começamos a aprender...
Que os beijos não são contratos
E os presentes não são promessas
E começamos a aceitar as derrotas
De cabeça levantada e os olhos abertos
Aprendemos a construir
Todos os seus caminhos de hoje,
Porque a terra amanhã
É demasiado incerta para planos...
E os futuros têm uma forma de ficarem
Pela metade.
E depois de um tempo
Aprendemos que se for demasiado,
Até um calorzinho do sol queima.
Assim plantamos nosso próprio jardim
E decoramos nossa própria alma,
Em vez de esperarmos que alguém nos traga flores.
E aprendemos que realmente podemos aguentar,
Que somos realmente fortes,
Que valemos realmente a pena,
E aprendemos e aprendemos...
E em cada dia aprendemos.

Jorge Luís Borges (1890-1986)

25 junho 2008

Ao teu lado...



"Há pessoas que transformam o Sol numa simples mancha amarela. Mas há, também, aquelas que fazem de uma simples mancha amarela, o próprio Sol."
Pablo Picasso (1881-1973)

16 junho 2008

Convite para um café...

Sharks Bar - Ron English

08 junho 2008

Um mundo perfeito...


A viverem da mesma forma há milhares de anos, índios de uma etnia desconhecida, sem nenhum contacto, até agora, com o homem branco, foram fotografados por um avião da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) na fronteira entre o Peru e o Brasil, no passado mês de Maio.


À passagem do avião, os guerreiros da tribo foram buscar os seus arcos e dispararam flechas contra ele.




04 junho 2008

Silêncio...

Bess, Javas - Cristopher Lee Donovan

"Somos escravos da nossa palavra e senhores do nosso silêncio"

Provérbio árabe


02 junho 2008

Saturno devorando a su hijo


"En la ausencia de la razon la mente crea monstros"
Francisco de Goya - 1746 - 1828



14 maio 2008

Splash




the illusion is that you are simply


reading this poem


the reality is that this is


more than a


poem.


this is a beggar's knife.


this is a tulip.


this is a soldier marching


through Madrid.


this is you on your

death bed.

this is Li Po laughing

underground.


this is not a god-damned


poem.

this is a horse asleep.

a butterfly in

your brain.


this is the devil's

circus.


you are not reading this


on a page.


the page is reading

you.


feel it?


it's like a cobra. it's a hungry eagle circling the room.


this is not a poem.


poems are dull,


they make you sleep.


these words force you


to a new


madness.

you have been blessed, you have been pushed into a

blinding area of

light.

the elephant dreams

with you


now.


the curve of space


bends and

laughs.

you can die now.


you can die now as


people were meant to

die:

great,

victorious,

hearing the music,

being the music,

roaring,

roaring,

roaring.


Charles Bukowski (1920-1994)




29 abril 2008

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

31 março 2008

A giz...


Ventana sobre el cuerpo...

La iglesia dice: El cuerpo es una culpa.
La ciencia dice: El cuerpo es una máquina.
La publicidad dice: El cuerpo es un negocio.
El cuerpo dice: Yo soy una fiesta.

No nos da risa el amor cuando llega a lo más hondo de su viaje, a lo más alto de su vuelo: en lo mas hondo, en lo más alto, nos arranca gemidos e quejidos, voces de dolor, aunque sea jubiloso dolor, lo que pensándolo bien nada tiene de raro, porque nacer es una alegría que duele.
Pequeña muerte, llamam en Francia a la culminación del abrazo, que ronpiéndonos nos junta y perdiéndonos nos encuentra y acabándonos nos empieza. Pequeña muerte, la llaman; pero muy grande, muy grande ha de ser, si matándonos nos nace.
Eduardo Galeno, El viaje

07 março 2008

Uma pequena verdade...

Eu não trago nem foice nem gadanha.
Só uso uma capa preta com capuz quando está frio.
E não tenho essas feições
tipo caveira que vocês parecem gostar de
me atribuir à distância. Querem
saber qual é realmente o meu aspecto?
Eu ajudo-os a descobrir. Vão buscar
um espelho enquanto eu prossigo.
Markus Zusak, The book Thief

27 fevereiro 2008

Os teus...


Os teus olhos
exigindo
ser bebidos
Os teus ombros
reclamando
nenhum manto
Os teus seios
pressupondo
tantos pomos
O teu ventre
recolhendo
o relâmpago
David Mourão Ferreira (1927-1996)

20 fevereiro 2008

01 fevereiro 2008

Sexta-Feira 1 de Fevereiro...

"Esse tipo de trabalho não me cansa, porque me permite pensar noutras coisas e até (porque não dizê-lo a mim próprio), sonhar também. É também como se me dividisse em dois seres diferentes, contraditórios, independentes, um que sabe o seu trabalho de cor, que domina ao máximo as suas variantes e subterfúgios, que está sempre certo do chão que pisa e outro, sonhador e febril, frustradamente apaixonado, um tipo triste que, porém, teve, tem e terá uma vocação para a alegria, um distraído a quem não importa por onde corre a pluma nem o que é que escreve a tinta azul que, passados oito meses, ficará negra."
Mario Benedetti in A Trégua
(Obrigado M. por estas páginas)

22 janeiro 2008

Além...




Ghosts - Tommi Ungerer

13 janeiro 2008

Na ponta dos dedos...


"Sempre que pronunciamos alguma coisa, desvalorizamo-la singularmente. Acreditamos ter mergulhado profundamente nos abismos, mas, quando voltamos à tona, a gota da água nas pálidas pontas dos nossos dedos já não se parece com o mar de onde provém. Sonhamos ter descoberto tesouros maravilhosos numa mina, mas quando voltamos à luz do dia apenas trazemos pedras falsas e cacos de vidro; mesmo assim, o tesouro brilha, imutável, na escuridão."


Maeterlinck (1862-1949)
Foto: Bill Brandt

08 janeiro 2008

Sísifo (ou um novo começo...)


Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.


E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças


Miguel Torga (1907-1995)