A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia chamada ser feliz - tudo isto cheira a mundo, sabe à triste coisa que é a terra.
Sê indiferente. Ama o poente e o amanhecer, porque não há utilidade. nem para ti, em amá-los. Veste o teu ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Maio nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. Tua ânsia mora entre mirtos, teu tédio cesse entre tamarindos e o som da água acompanhe tudo isto com um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr, eterno, para marés longínquas. O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estedem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua, a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.
Meu destino é a decadência.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego
7 comentários:
Impressionante análise, esta do mundo, feita por Fernando Pessoa (Bernardo Soares).
Ele quem escreve e diz de si mesmo: Sou um homem para quem o mundo exterior é uma realidade interior. Sinto isto não metafisicamente, mas com os sentidos com que colho a realidade.
O MEU É SER
ACREDITO
[ NÃO ACRE DITO :)
BEIJO
~
( fonte de aldeia
pedra colo
sub
ter r âneo a
noi t ecer
( sou rã sou charco
casa met a de nascer
[ est/sou mais caeiro :)
este texto, tem tanto dos teus livros, que os reconheço imediatamente, o desassossego na escrita, faz-me crer que afinal´à amanheceres
Saudades
beijinhos
nada senão tudo
aqui
acon tece,
m u i t o
de va gar,,, :)
precisamos que aconteça, beijinho
O cenário da vida é montanhoso e os nossos pés errantes.
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