24 dezembro 2007

Porque estás sempre comigo...

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço – e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor

que te procuram.



Herberto Hélder


(para a Mulher que me ensinou a procurar...)

7 comentários:

un dress disse...

NAS












CER









de sangue ar musgo vento e água








~







que também nascendo se procura...

beijO

Anônimo disse...

Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
...
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
...
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
...
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinho de mim, deixa ser meu o teu quintal
...
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

Para o Homem que não procurei e tive a felicidade de encontrar!
M

Dalaila disse...

este poema não se encontra cai-nos, e as ideias que o percorrem fazem-nos falar no silêncio, que somos...

eu que o declamo, adoro-o,
A mulher que falas e a ti, também não vos procurei, achei-me com vocês, e adoro-vos aos dois... e está quase a fazer um ano... o nosso primeiro abraço.... e desde aí.... a nossa amizade encontrou-se completamente

ContorNUS disse...

Excelente escolha para partilhar...

voltarei...

e para atalhar caminho...foi linkar este teu pedaço ;)

~pi disse...

a ti...pressagio-te...vida!






:)que 2008

se te abra......pleno.......

ROSASIVENTOS disse...

bom ano!

feniana disse...

bom ano, k.