29 abril 2008

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

4 comentários:

~pi disse...

em espelho,

eco do seu eco:

um a um

cada

um

Dalaila disse...

a ilusão da metade, numa porta que não se abre por completo.

beijinhos

un dress disse...

narcisimo em estado puro..








beijO

ROSASIVENTOS disse...

agora: do céu no céu da tua boca

do que tenho medo: para além de outros receios: