01 julho 2007

Quem, no seio...

"Les hommaginaires - Antonin Artaud" - B.M.C

"Quem sonha sem deplorar os seus sonhos, sem trazer uma sensação de atroz nostalgia desses mergulhos em fecunda inconsciência, é imundo. O sonho é verdadeiro. Todos os sonhos são verdadeiros. Tenho a sensação de asperezas, paisagens como que esculpidas, pedaços de terras ondulantes cobertos por uma espécie de areia fresca cujo sentido quer dizer:«pesar, decepção, abandono,ruptura, quando é que voltamos a ver-nos?» Nada faz lembrar tanto o amor como o apelo de certas paisagens vistas em sonho, como o que rodeia certas colinas e é uma espécie de argila material cuja forma diríamos moldada pelo pensamento.

Quando é que voltamos a ver-nos?Quando é que o sabor terroso dos teus lábios voltará a roçar a ansiedade do meu espírito? A terra é como um turbilhão de lábios mortais. A vida escava-nos à frente o abismo de todas as carícias que faltaram. Que fazer ao nosso lado do anjo que não soube aparecer? As nossas sensações serão todas intelectuais de vez, e os nossos sonhos não chegaram a incediar-se numa alma cuja emoção nos vai ajudar a morrer? Que morte será esta onde nunca estamos sós, onde o amor não sabe mostrar-nos o caminho?"


Antonin Artaud (1896 -1948) L´art et la mort, Paris, 1929

2 comentários:

un dress disse...

sei.lá...!

mas todos os dias pergunto...





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Dalaila disse...

Há palavras que nos tocam, como se estivesem por dentro da pele, há perguntas....
Muito lindo este texto...